A cidade de Pombal, no alto
sertão da Paraíba, terra natal do poeta Leandro Gomes de Barros, abriu nesta
sexta-feira (21) as comemorações do Sesquicentenário daquele que é considerado
pai do cordel, com uma palestra do professor Aderaldo Luciano, em prestigiada
solenidade pelo mundo cultural
sertanejo.
Leandro Gomes de Barros nasceu
na Fazenda da Melancia, no município de Pombal, em 19 de novembro de 1865 e
morreu em Recife, em 4 de março de 1918. Foi um poeta de literatura de cordel
brasileiro, sendo considerado como o primeiro escritor brasileiro de literatura
de cordel. Estima-se que sua vasta produção literária, iniciada em 1889, no
estado de Pernambuco, atinge cerca de 600 títulos, dos quais foram tiradas mais
de 10 mil edições.
No seu tempo, era cognominado
"O Primeiro sem Segundo", e ainda é considerado o maior poeta popular
do Brasil de todos os tempos, autor de vários clássicos e campeão absoluto de
vendas, com muitos folhetos que ultrapassam a casa dos milhões de exemplares
vendidos.
Com cerca de 10 anos de idade,
na cidade de Teixeira-PB, conviveu com grandes violeiros, a exemplo de Ignácio
da Catingueira, Romano da Mãe d'Água, Bernardo Nogueira e Ugulino Nunes da
Costa. Por eles nutriu grande simpatia e admiração e deles herdou o estro da
poesia popular, tornando-se o primeiro sem segundo, escrevendo mais de
seiscentas histórias, distribuídas em mais de 10 mil edições.
Compôs obras-primas que eram
utilizadas em obras de outros grandes autores, como por exemplo, Ariano
Suassuna, que utilizou a história do gato que defecava dinheiro no seu
"Auto da Compadecida". Escreveu folhetos de cordel de grande
aceitação popular, como História da Donzela Teodora, Juvenal e o Dragão,
Antônio Silvino, O Rei dos Cangaceiros, O Boi Misterioso, Alonso e Marina, João
da Cruz, Rosa e Lino de Alencar, O Príncipe e a Fada, O satírico Cancão de
Fogo, entre muitos outros.
Depois de fundar uma pequena
gráfica, em 1906, seus folhetos se espalharam pelo Nordeste, sendo considerado
por Câmara Cascudo o mais lido dos escritores populares. Na crônica intitulada
Leandro, O Poeta, publicada no Jornal do Brasil em 9 de setembro de 1976,
Carlos Drummond de Andrade o chamou de "Príncipe dos Poetas" e
assinala: "Não foi príncipe dos poetas do asfalto, mas foi, no julgamento
do povo, rei da poesia do sertão, e do Brasil em estado puro". E diz mais:
"Leandro foi o grande consolador e animador de seus compatrícios, aos
quais servia sonho e sátira, passando em revista acontecimentos fabulosos e
cenas do dia-a-dia, falando-lhes tanto do boi misterioso, filho da vaca
feiticeira, que não era outro senão o demo, como do real e presente Antônio
Silvino, êmulo de Lampião".
Pioneiro na produção de
literatura de cordel no país, Leandro Gomes de Barros foi considerado por Luís
da Câmara Cascudo "o mais lido de todos os escritores populares. Escreveu
para sertanejos e matutos, cantadores, cangaceiros, almocreves, comboieiros, feirantes
e vaqueiros. É lido nas feiras, nas fazendas, sob as oiticicas, no oitão das
casas pobres, soletrado com amor e admirado com fanatismo. Seus romances,
histórias românticas em versos, são decorados pelos cantadores".
A cidade de Pombal sempre foi
grata a Leandro, reconhecendo seu talento e o poder de sua poesia, que
encantou e encanta, ainda hoje, os sertões nordestinos. A prefeita de
Pombal-PB, Pollyana Dutra, está decretando 2015 o Ano de LEANDRO GOMES DE
BARROS.
É de sua autoria:
Quando a desgraça
quer vir
Não manda avisar
ninguém,
Não quer saber se
um vai mal
E nem se outro vai
bem,
E não procura saber
que idade fulano tem.
Não especula se é
branco,
Se é preto, rico,
ou se é pobre,
Se é de origem de
escravo ou se é de linhagem nobre
É como o sol quando
nasce.
O que acha na
terra, cobre!