Ao pedir à Justiça o afastamento da prefeita Micarla de
Sousa (PV) o Ministério Público Estadual elencou uma série de razões, entre
elas o recebimento de propinas oriundas de contratos de fardamento e de merenda
escolar; uma "incompatibilidade" entre o imposto de renda e os gastos
mensais; e uma verdadeira "força-tarefa" de secretários visando, com
recursos públicos, pagar as contas pessoais da chefe do Executivo e do então
marido, Miguel Weber.
Na peça de denúncia, o MPE revela com detalhes - possíveis
graças à quebra dos sigilos fiscal e telefônico e de interceptações via SMS -
"a verdadeira saga do fiel escudeiro", Francisco de Assis Viana e,
especialmente, do secretário de Planejamento, Antônio Luna, para viabilizarem
recursos com o fim de saldar dívidas e cobrir os cheques especiais e cartões de
crédito da prefeita afastada.
Segundo a denúncia, esses gastos mensais de Micarla incluíam
a escola dos filhos e viagens com amigos. O sigilo da acusação está quebrado.
O suposto esquema fraudulento, segundo o Ministério Público,
criou tentáculos e estava presente em vários setores do governo municipal.
"Uma rede de corrupção disseminada por grande parte da estrutura
organizacional da administração", disse o MPE.
A prefeita Micarla de Sousa
e o então marido, Miguel Weber, são citados como atores principais e
responsáveis por articular uma rede de corrupção, cujos personagens e
figurantes eram milimetricamente escolhidos, todos pertencentes a um fechado
grupo de pessoas de extrema confiança.
O procurador Manoel Onofre, que assina a denúncia, observa
que a chefe do Executivo afastada requereu em diversos momentos, benesses do
suposto esquema, o que o levou a concluir que Micarla de Sousa vinha
administrando a cidade de maneira "irresponsável, a seu bel-prazer,
fazendo com que a máquina pública trabalhe a seu favor e de alguns apaniguados,
sem qualquer compromisso com o bem-estar da população".
As provas mais contundentes foram colhidas de interceptações
em e-mails e da busca e apreensão ocorrida na residência do ex-secretário Luna.
O suposto esquema, ainda segundo o MPE, tinha cofre específico - as propinas
cobradas nos contratos de terceirização da saúde, as quais já teriam atingido a
impressionante marca dos R$ 65 milhões.